QUE SAÚDE SE DIFUNDA SOBRE A TERRA

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A cura dos doentes na Igreja hoje

A cura dos doentes na Igreja hoje Padre Igor Damo Nota-se uma efervescência de novos movimentos religiosos com prática de evangelização centrada na cura. Pessoas com a vida desnorteada e doente têm sido atraídas por novos movimentos, sem necessariamente precisar ter vínculo de seguimento restrito com determinada instituição religiosa. Essa prática tem provocado uma migração de pessoas de uma Igreja para outra, para buscar satisfazer as necessidades urgentes como da saúde. Nesse sentido, a cura através da religião está se tornando um desafio à Igreja de hoje. Apesar de esse fenômeno ter crescido nas últimas décadas, ele não é novo. Na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, várias são as passagens que mostram a presença de pessoas com saúde debilitada (Mt 4, 23-24; Tg 5, 14-16; Mc 2, 1-12; Mc 8, 22-26). Elas aparecem não com o nome de “doentes”, mas como gente afetada por diversas enfermidades. As passagens mais evidentes estão no Novo Testamento devido à atenção misericordiosa de Jesus diante do pedido de cura dos doentes: “Minha filhinha está morrendo. Vem e impõe sobre elas as mãos, para que ela seja salva e viva” (Mc 5, 23). Vale ressaltar, contudo, que as curas, especialmente realizadas por Jesus, diziam respeito ao todo da vida humana, dentro das suas dimensões. Elas também não se davam de maneira “milagrosa” e instantânea como, às vezes, se imagina e até se prega atualmente. Existem, por exemplo, programas religiosos em canais de televisão que anunciam dia e hora em que Jesus vai estar na igreja para acabar com o sofrimento. É pretensão! O ser humano não tem como prever, nem programar a ação de Deus. A ação curativa de Jesus acontecia de modo processual, dentro de uma relação comunitária, sem hora marcada. Para isso, Jesus contava com a ajuda dos que participavam da comunidade. “Jesus convocou os Doze, e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios e para curar as doenças” (Lc 9,1). A cura não se dava entre “eu e Deus”, e sim entre a comunidade e Deus, em vista de uma pessoa necessitada. Nesse sentido, embora as pessoas confiem na Igreja, a Igreja carece cuidar dos exageros. A cura foi uma prática verdadeira da história de evangelização de Jesus e não pode simplesmente ser utilizada como instrumento para atrair fiéis para dentro de uma Igreja ou outra. A Bíblia mostra que a cura do Filho Deus não era feita, fabricada por alguém. Ela exigia uma constante caminhada, e ocorria por meio da ligação entre fé – vida - vontade da pessoa. Jesus dizia: “Tua fé te salvou” (Lc 8, 48). Ele não falava: tua Igreja te salvou. A missão de todas as Igrejas é de ficar com os olhos abertos a essa situação, evidente, para atender com justiça os milhares que se voltam confiante a elas em busca do fim do sofrimento. A prática religiosa, a oração e a fraternidade, através do carinho das relações comunitárias, poderão fortalecer integralmente a vida, respeitando a fé dos filhos e filhas de Deus, sem o uso distorcido das reais atitudes misericordiosas de Jesus com os pobres. À luz do evangelho, o desafio que permanece à Igreja, que queira estar empenhada com o Reino, é não existir fazendo anúncios assistenciais. A Igreja necessita lutar pelo fim das estruturas injustas que produzem moléstias ao povo, contribuindo para prevenção e cuidados com o todo da vida humana, para a saúde se difundir sobre a terra (Eclo 38,8); e os curados encontrarão a liberdade tornando-se discípulos e discípulas ao reconhecer o poder do Filho de Deus. “Então a febre deixou a mulher, e ela começou a servi-los” (Mc 1, 31).

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