QUE SAÚDE SE DIFUNDA SOBRE A TERRA

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sábado, 26 de novembro de 2011

Comunidade Cristã e a homossexualidade

Comunidade cristã e a homossexualidade
Igor Damo
Em construção

            O objetivo deste texto é colaborar para que você, leitor, e você, leitora, amplie sua compreensão e supere atitudes discriminatórias diante de um tema de reflexão remoto e com diferentes interpretações. Trata-se da experiência afetiva e sexual dos homossexuais, pessoas que sentem atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo sexo.
            Um elemento importante, às vezes desconsiderado, quando se reflete a homossexualidade, é o valor da sexualidade a partir de sua compreensão adequada. A sexualidade é inseparável do ser humano, é um componente histórico. Constitui-se de fatores morfológicos, fisiológicos, neurológicos, genéticos, psicológicos, espirituais, culturais, sociais e ambientais. Compreendê-la de forma parcial, ignorando sua amplitude, corre-se o risco de cometer equívocos, criando conceitos de uma pessoa por suas opções sexuais sem considerar os diferentes fatores que constituem sua sexualidade, fazendo até julgamentos preconceituosos.
            Considerando isso, percebe-se que a compreensão de pessoa presente no senso comum, nos bate-papos do dia-a-dia, carece de ser mais ampla. De modo especial, pode-se dizer, assim como o ato sexual não serve para definir a pessoa heterossexual, também não serve para definir o homossexual. Segundo o moralista Marciano Vidal, a homossexualidade é condição antropológica de um ser pessoal. Para ele a condição humano-sexual se caracteriza na atração constitutiva por companheiros do mesmo sexo. Isso ultrapassa os atos comportamentais.[1] No entendimento do moralista, o homossexual, por exemplo, não pode ser definido como portador de patologias somáticas ou psíquicas. A partir de 1973, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade do catálogo das enfermidades mentais e dos dados da evolução genéticas. Mais recentemente, em 1993, a homossexualidade foi retirada do CID – 10 (Classificação Internacional de Transtornos Mentais e do Comportamento).
            Evidentemente, existem opiniões também discordantes. Interessante, porém, ver a homossexualidade sem ser um tabu, refletido-a e compreendo-a com maturidade, mesmo porque ela é tão antiga como o ser humano, manifestando-se de diferentes maneiras e épocas. Embora em alguns espaços tenha sido assunto comum, sempre foi carregada de preconceitos e atitudes reducionistas. O pensador Michel Foucault percebeu isso ao dizer que no Ocidente, principalmente, a pessoa que não se enquadra na “família monogâmica”, que vise apenas à procriação e não ao prazer, fica de alguma forma excluída.[2]
Constata-se, portanto, que sofrem os que se assumem homossexuais e também aqueles que escondem esta característica sexual-afetiva. Aqueles, porque se tornam motivos de brincadeiras de mau gosto, agressões verbais e físicas diversas das pessoas; e estes, porque não conseguem viver uma sexualidade plena isolando-se de qualquer relação social.
Naturalmente, são injustificáveis as várias discriminações aos homossexuais. Embora lentamente algumas atitudes menos hostis têm sido de apoio aos homossexuais, há a necessidade de todos melhorarem a compreensão e ação nos dias atuais com pessoas homossexuais. Este é o caso, especialmente, das comunidades cristãs que, inegavelmente, pela própria educação tradicional, enfrentam a inquietação diante deste desafio.
Sabe-se: o caminho é longo, mas é possível aos poucos um crescimento humano gradativo e misericordioso diante da realidade aflorada da homossexualidade nos dias de hoje, e a coragem de criar orientações pastorais a este respeito3.
As comunidades cristãs necessitam ter uma atitude de acolhida em relação aos homossexuais. Ver a pessoa em seu todo! As comunidades cristãs têm a missão, a partir da prática de Jesus, de conciliar o compromisso cristão a esta realidade, reconhecendo na pessoa homossexual a liberdade que caracteriza o ser humano e sua particular dignidade.
            As comunidades não podem rejeitá-los. Precisam rever certas atitudes discriminatórias, respeitar seus valores, integrá-los aos grupos de fé, ajudá-los com solidariedade e fraternidade para que se sintam bem e se interessem pela vida cristã, e assim não haja antagonismo entre homossexualidade e espiritualidade.













[1] Marciano VIDAL. Para Conhecer a Ética Cristã, Paulus, 2005, p. 266.
[2] Michel FOUCAULT. História da sexualidade – Vol I: A vontade do saber. Graal, 1999, pag. 24.
3Cf; Ademildo GOMES; José TRANSFERETTI. Homossexualidade – orientações pastorais. Paulus, 2011.