QUE SAÚDE SE DIFUNDA SOBRE A TERRA

QUE SAÚDE SE DIFUNDA SOBRE A TERRA

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

 Lucas 1, 26 -38. 
Este trecho do evangelho traz presente o anuncio do Anjo a Maria. O anjo que representa aquele que é portador da boa noticia de Deus à Maria e a José, representantes do povo pobre de Israel, que escolhidos por Deus assumiram a encarnação de Jesus. Três elementos, pelo menos o evangelho de Lc aponta. Primeiro é questão da alegria. “Diz o anjo: ‘alegre-te cheia de graça”. Quer dizer! Ter sido escolhido para se engravidar de Deus deve ser motivo de alegria. Segundo elemento, a questão do encorajamento: Diz o anjo, “Não tenhas medo, porque encontras graça diante de Deus”. Neste caso Maria estava sendo desafiada à gerar alguém muito grande, importante para Deus e toda a humanidade. O terceiro elemento, é a questão do Espírito Santo. Disse o anjo: O espírito santo vira sobre ti e o poder do altíssimo te cobrirá com sua sombra. Isto mostra que realmente a vinda de Jesus é presença do espírito Deus. E a gravidez de Maria, o sim de Maria, possibilitou, o nascimento de um santo.  O Evangelho de Lucas faz memória do anúncio santo feito pelo anjo Gabriel à Maria. É o anúncio que marcou o amor pleno de Deus com o mundo. E hoje, evidentemente, temos que aproximar esta passagem de Lucas para a vida da gente. Ou seja, colocar-se agora no lugar de Maria e sentir Deus nos pedindo para deixar o espírito santo habitar em nossa vida. Em outras palavras, o evangelho pede para que todos, sem exceção estejamos engravidados do espírito santo para gestar em nós o projeto de Deus. Estejamos disponíveis ao chamado do Pai, e em comunidade, assim como Maria contribuir para o nascimento do salvador. "Natal é vida que Nasce".

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pedidos de oração

Algumas pessoas estão me escrevendo e perguntando se faço orações em prol da saúde, trabalho, casamento, família, provas e concursos... Claro! Estamos prontos para ajudá-los, evidentemente motivando para a participação na comunidade e o compromisso pessoal com Deus. No espaço comentário, poderá pedir deixando o nome e necessidade... Abraços queridos

sábado, 26 de novembro de 2011

Comunidade Cristã e a homossexualidade

Comunidade cristã e a homossexualidade
Igor Damo
Em construção

            O objetivo deste texto é colaborar para que você, leitor, e você, leitora, amplie sua compreensão e supere atitudes discriminatórias diante de um tema de reflexão remoto e com diferentes interpretações. Trata-se da experiência afetiva e sexual dos homossexuais, pessoas que sentem atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo sexo.
            Um elemento importante, às vezes desconsiderado, quando se reflete a homossexualidade, é o valor da sexualidade a partir de sua compreensão adequada. A sexualidade é inseparável do ser humano, é um componente histórico. Constitui-se de fatores morfológicos, fisiológicos, neurológicos, genéticos, psicológicos, espirituais, culturais, sociais e ambientais. Compreendê-la de forma parcial, ignorando sua amplitude, corre-se o risco de cometer equívocos, criando conceitos de uma pessoa por suas opções sexuais sem considerar os diferentes fatores que constituem sua sexualidade, fazendo até julgamentos preconceituosos.
            Considerando isso, percebe-se que a compreensão de pessoa presente no senso comum, nos bate-papos do dia-a-dia, carece de ser mais ampla. De modo especial, pode-se dizer, assim como o ato sexual não serve para definir a pessoa heterossexual, também não serve para definir o homossexual. Segundo o moralista Marciano Vidal, a homossexualidade é condição antropológica de um ser pessoal. Para ele a condição humano-sexual se caracteriza na atração constitutiva por companheiros do mesmo sexo. Isso ultrapassa os atos comportamentais.[1] No entendimento do moralista, o homossexual, por exemplo, não pode ser definido como portador de patologias somáticas ou psíquicas. A partir de 1973, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade do catálogo das enfermidades mentais e dos dados da evolução genéticas. Mais recentemente, em 1993, a homossexualidade foi retirada do CID – 10 (Classificação Internacional de Transtornos Mentais e do Comportamento).
            Evidentemente, existem opiniões também discordantes. Interessante, porém, ver a homossexualidade sem ser um tabu, refletido-a e compreendo-a com maturidade, mesmo porque ela é tão antiga como o ser humano, manifestando-se de diferentes maneiras e épocas. Embora em alguns espaços tenha sido assunto comum, sempre foi carregada de preconceitos e atitudes reducionistas. O pensador Michel Foucault percebeu isso ao dizer que no Ocidente, principalmente, a pessoa que não se enquadra na “família monogâmica”, que vise apenas à procriação e não ao prazer, fica de alguma forma excluída.[2]
Constata-se, portanto, que sofrem os que se assumem homossexuais e também aqueles que escondem esta característica sexual-afetiva. Aqueles, porque se tornam motivos de brincadeiras de mau gosto, agressões verbais e físicas diversas das pessoas; e estes, porque não conseguem viver uma sexualidade plena isolando-se de qualquer relação social.
Naturalmente, são injustificáveis as várias discriminações aos homossexuais. Embora lentamente algumas atitudes menos hostis têm sido de apoio aos homossexuais, há a necessidade de todos melhorarem a compreensão e ação nos dias atuais com pessoas homossexuais. Este é o caso, especialmente, das comunidades cristãs que, inegavelmente, pela própria educação tradicional, enfrentam a inquietação diante deste desafio.
Sabe-se: o caminho é longo, mas é possível aos poucos um crescimento humano gradativo e misericordioso diante da realidade aflorada da homossexualidade nos dias de hoje, e a coragem de criar orientações pastorais a este respeito3.
As comunidades cristãs necessitam ter uma atitude de acolhida em relação aos homossexuais. Ver a pessoa em seu todo! As comunidades cristãs têm a missão, a partir da prática de Jesus, de conciliar o compromisso cristão a esta realidade, reconhecendo na pessoa homossexual a liberdade que caracteriza o ser humano e sua particular dignidade.
            As comunidades não podem rejeitá-los. Precisam rever certas atitudes discriminatórias, respeitar seus valores, integrá-los aos grupos de fé, ajudá-los com solidariedade e fraternidade para que se sintam bem e se interessem pela vida cristã, e assim não haja antagonismo entre homossexualidade e espiritualidade.













[1] Marciano VIDAL. Para Conhecer a Ética Cristã, Paulus, 2005, p. 266.
[2] Michel FOUCAULT. História da sexualidade – Vol I: A vontade do saber. Graal, 1999, pag. 24.
3Cf; Ademildo GOMES; José TRANSFERETTI. Homossexualidade – orientações pastorais. Paulus, 2011.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Finados


FINADOS
Pe. Igor Damo
Texto provisório

            No dia dois de novembro celebremos todos os fiéis defuntos.  Finados é o dia dos que “findam”, dos que chegaram ao “fim de seu tempo”. O dia de finados surgiu no século XI com os monges do mosteiro de Cluny, na França. Tudo começou com uma missa por todos os mortos no dia seguinte à festa de todos os Santos. A intenção era ressaltar a unidade existente entre os cristãos que vivem na terra e os mortos e santos que estão na glória. Assim, hoje, o povo presa por está data, reza em favor dos seus entes queridos.
Ao visitar os cemitérios, tradicional prática nos finados, lembranças tornam-se vivas. Histórias de pessoas e/ou famílias marcadas pela alegria e também por dores e sofrimentos vem à memória. Junto a isso o povo cristão fortalece a fé na ressurreição e na esperança de que os falecidos alcancem a vida eterna.
Todos aqueles que crêem garantem a vida eterna (Jo 3, 16). Por isso, a oração em favor dos mortos é sinal de confiança. Ela toma sentido profundo a partir da fé e dos limites da fé de irmãos e irmãs falecidos, à luz daquele que oferece a eternidade, Jesus morto e ressuscitado.
Jesus dizia: “Quem crê em mim tem a vida eterna”. Isso mostra como a eficácia da oração e a própria salvação eterna tem seu auge na profundidade da fé tida em Jesus. Segundo o evangelista João Deus dá a vida a quem recebe seu Filho (Jo 5, 11). Isto é, os que morrem com Cristo, os que vivem segundo sua vontade, acreditam no evangelho testemunhando o amor entre as pessoas e a comunidade, alcançam a vida eterna.
            Podemos nos perguntar: Como era a fé de nosso amigo falecido? Qual a profundidade de minha fé em Jesus dentro do contexto atual do mundo em que vivo?
            No dia dos finados parece ser importante refletir a partir da morte, a vida. Ela dá chance para a salvação. Situações como mortes de inocentes causadas pela violência, pelo descaso da sociedade, pelo domínio sobre os pobres, demonstram desvios e pouca fé de pessoas... Isso pode provocar tormentos ao chegarmos, certo dia, à morte.  
 A morte causada pela injustiça não agrada a Deus porque machuca e abrevia a vida. “Até quando afligis minha alma e me aborreceis e não se envergonhais de me oprimir? (Jó)”. Dada está situação, a oração feita aos mortos, adquire sentido e responsabilidade para converter corações à vida eterna.
A morte, parte da vida, nem sempre é vista à luz da fé na ressurreição. Dentro disso, manifestamos certo medo diante da morte. O medo da morte nos rodeia. Diante deste mistério ficamos confusos... Especialmente por sermos ocidentais temos a vida como nosso tudo, enquanto a morte como ruína. Porém, tememo-la e em contradição não cuidamos o suficiente da vida. Assim, esquecemos de inibir as armas, os químicos, a poluição, a exploração, a corrupção, a informação maliciosa, a falta de pão e de leite e outros fatores que de certa maneira são inimigos da morte “natural”, dada ao longo dos anos ou mesmo dentro da fraqueza de cada corpo. Ainda, às vezes, duvidamos se estes desafios têm a haver com a fé na ressurreição.
            Contudo, morrer é como nascer. A pessoa, ao nascer, fica em crise por entrar em contato com uma realidade diferenciada do útero da mãe. Mas a criança deve nascer, senão morre. Na situação de morte, entra-se em crise também, por entrar em contato com outro mundo diferente, a totalidade. Por sua vez, para a fé cristã, na medida em que vamos morrendo, vamos ressuscitando para eternidade. Isso dá segurança.
            Na história se associou a morte com o pecado. Mas é significativo pensar a morte não como conseqüência do pecado. Conseqüência do pecado é a forma como experimentamos a morte. O pecado consiste em querer viver só para si mesmo, longe da comunidade, sem se relacionar e se solidarizar. A solidão no lugar da solidariedade, por exemplo, faz com que a morte seja vivenciada como assalto e destruição. O isolamento, o individualismo e o distanciamento da comunidade de fé do “lado de cá”, faz sustentar a idéia da solidão do “lado de lá”. Neste caso, o medo e até o pavor da morte cresce devido ao um sentimento de culpa; endividados com Deus tememos não receber o céu.
            De fato, o céu parece ser a potencialidade daquilo que já na terra experimentamos. Sempre que na terra fazemos experiência do bem, da felicidade, da amizade, da paz, da justiça e do amor, já estamos vivendo, de forma parcial, mas real, a realidade do céu.
Neste dia dos finados reconheçamos a necessidade de equilíbrio, de uma fé comprometida com o sonho de Deus, que enviou seu filho para mostrar o caminho da salvação. 
“Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus". (Jo 17-21).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Violência aqui, ali, lá.

Violência aqui, ali, lá...
                                                                                                                                  Igor Damo
Gosto de estar em determinados lugares onde há frequentemente a presença de jovens. Algumas vezes sou convidado por eles, outras vezes os frequento por conta própria. As próximas linhas são fruto de minha presença em alguns destes espaços.
Primeiro fato. Em uma noite enluarada, já um pouco tarde, resolvi sair de casa para tomar sorvete. Ao chegar à sorveteria, sentei à mesa, pelo lado de fora, próximo da calçada. Durante alguns minutos fiquei sozinho, até que um jovem me cumprimentou e parou ao meu lado. Sentou-se e começou a conversar baixinho. Disse-me: “Lá em casa está feio. Acabamos de brigar. Por acaso tu tens um ‘bagulho’? Senão terei que subir o morro”. Fiquei inseguro, pois não o conhecia. Espontaneamente falei que não poderia ajudá-lo. O rapaz naturalmente agradeceu e continuou sua caminhada. Após este episódio, certo dia, o avistei no meio da assembleia, durante uma celebração eucarística. Depois disso, nunca mais o vi. Fico a imaginar se ainda vivencia a violência em seu lar e se tenta superá-la fumando maconha.
Segundo fato. Após um tempo, mudei-me de cidade. Como viajava para visitar escolas e dar formação às lideranças de Igreja, costumeiramente saía cedo de casa. Uma manhã, por volta das cinco horas, quando abri o portão da garagem, tive uma surpresa. Escutei um barulho. Olhei no retrovisor do carro e avistei um jovem “dando murros” no vidro traseiro. No momento pensei ser um assalto. Contudo, pedindo carona perguntou-me se eu poderia levá-lo para casa; ele estava com medo de chegar só e “receber gancho”. Descobri que a casa, à qual se referia, era de recuperação de dependentes químicos. Percorri aproximadamente 10km até o local. Como ele estava alcoolizado, perguntei por que bebia. Contou-me, então, que começou a beber após ter sido demitido do trabalho. Disse-me também: “Seguinte Chefe! Durante o tratamento fico nervoso, tenho vontade de matar, então fujo para tomar umas”.
Terceiro fato. Este aconteceu em plena Sexta-Feira Santa. Após a procissão, ao iniciar a reflexão na igreja, um jovem, alcoolizado, depois de ter-me ouvido proferir a palavra pobre, gritou: “Eu, padre, sou o pobre aqui”. Seu grito silenciou a todos, principalmente a mim. De certa forma, “tirou-me o tapete”. As lideranças, assustadas, levantaram-se para retirá-lo de dentro da igreja. Porém, pedi para que o trouxesse até mim. Imaginei: “Hoje este cara vai fazer a homilia em meu lugar”. E assim aconteceu: Aproximei o microfone de sua boca e pedi se queria falar algo. Com dificuldade, disse: “Gosto de vocês, da Igreja, sou gente boa, vamos bater palmas para Jesus”. Sinceramente, as pessoas esperavam que o jovem pronunciasse “abobrinhas”. Interessante! O povo acabou dando uma salva de palmas.  A partir daquele dia, levo como lembrança o jovem violentado nos seus direitos de expressão; ele buscou ser ouvido em plena celebração da paixão e morte de Cristo.
Quarto fato. Estava trabalhando a temática da violência em uma escola. Ao encerrar o trabalho, uma mulher me parou no corredor dizendo que já havia ouvido falar de mim, me conhecia e gostaria de um favor. Pediu para que conversasse com seu amigo. Fiquei um pouco tímido, mas acabei agendando hora para ouvir o rapaz, em uma sala da escola. Sinceramente não acreditava que ele viria conversar, no entanto apareceu. Era um jovem deprimido e pensava em suicidar-se. Sentia-se incapaz de se vestir bem, de se achar bonito e de agradar a pessoa amada. Encontrava-se, de fato, triste. Motivo do abatimento: o fim do noivado.  Evidentemente, o fim do namoro tinha outras causas, no entanto, para o jovem, isto é que pesava: não ter moto para passear com a namorada e ter pouco dinheiro para estar na moda. Pessoalmente, não acreditava em uma situação assim. Como um jovem, com caminho longo para percorrer, carregava um sentimento de rejeição tão forte, a ponto de querer tirar sua própria vida? Pensava, sim, em suicídio porque o namoro não havia dado certo, não tinha moto e não conseguia ser feliz com as roupas que usava.
É realmente complicado! O jovem é violentado discretamente.
Quinto fato. Certo dia fui convidado para participar de um baile de formatura, dos formandos do terceiro ano do Ensino Médio. O salão estava lotado de adolescentes, jovens, famílias, enfim, de lideranças da comunidade. A festa estava boa. O bate-papo com a gurizada, melhor ainda. Os alunos estavam contentes. Embora eu não estivesse na festa para fazer análises, chamou-me a atenção a camiseta dos alunos do “terceirão”. Ela tinha cor verde e na estampa o slogan de um famoso refrigerante. Aproximando-me de um rapaz, disse a ele: É difícil para os jovens arrecadar dinheiro para formatura. Eles têm que fazer promoção e ainda necessitam de patrocínio. Aí tive a surpresa, quando ele afirmou: “Não é patrocínio cara. Alguém sugeriu à turma e todos aceitaram utilizar esta camiseta”. No momento pensei o que poderia levar alunos de terceiro ano, prontos para prestar vestibular, a serem “outdoors ambulantes”? Aí lembrei! A marca de refrigerante na camiseta dos jovens formandos patrocinava, naqueles dias, um programa de grande audiência na televisão.
Estes poucos exemplos, espero que ajudem você a refletir e lembrar-se de situações semelhantes vividas no cotidiano, nos estádios, no trânsito, nas escolas, nas festas. Existem milhares de situações que fazem despertar o desafio de discutir sobre a violência, especialmente na vida dos jovens.
As situações de violência envolvem a juventude de hoje de maneira exacerbada.  A tendência é de criminalizar a juventude. Há a necessidade de perceber como, em muitos casos, os jovens são vítimas e, quando transgredidos, precisam ser orientados.
Percebamos! A juventude de um jeito ou outro está sendo exterminada aqui, ali, lá. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A linguagem na pastoral urbana

A linguagem na pastoral urbana
Pe. Igor Damo
Estamos convencidos da importância da linguagem na sociedade? Ela é uma das principais ferramentas de formação na cultura atual. Por meio dela podemos pensar o passado, o futuro e construir nosso projeto de vida. Pela linguagem nos comunicamos com o mundo, com os diferentes grupos sociais, com suas concepções, maneiras de pensar e modos de compreender, entender e praticar o que é correspondente à vida.
A linguagem é um grande anseio de comunicar. À Igreja que tem como meta comunicar Jesus Cristo, a linguagem aparece como companheira inseparável da pastoral urbana. Ao mesmo tempo, é um desafio, pois precisa estar adequada à cultura atual facilitando o diálogo, sobretudo com os cidadãos envolvidos pela cultura urbana.
À Igreja é urgente uma linguagem atualizada, à luz da prática junto ao povo, perto das famílias, das crianças e jovens, nos vários espaços de convivência, aproximando o Evangelho das causas urgentes... Isso implica afirmar que, mais do que ontem, hoje é indispensável considerar os elementos constitutivos da linguagem, como: gestos, sinais, sons, símbolos e palavras.
Tem-se consciência, pois, de que o mundo plural é, no concreto, retrato da vitória das pessoas que gozam de um espaço de liberdade, de modo especial na cidade. Sabe-se como os conceitos, valores, tradições e patrimônio do passado não são aceitos com facilidade, especialmente pelas novas gerações. Adequar a linguagem para os dias de hoje, não significa abandonar convicções e valores. Significa querer aprimorar a transmissão, a fim de que os valores da fé sejam bem compreendidos e vividos pelas pessoas.
A Igreja corre o risco de manter uma comunicação funcional e viciar a linguagem, deixando-a ineficiente a este mundo dinâmico. Isto exige cuidado. É difícil perceber se a linguagem está descontextualizada, desconectada, ampla e pouca específica. É difícil saber ao certo se a fé anunciada aos homens e mulheres mais distantes é compreendida.
Sobre o conteúdo comunicado, não se tem dúvida. Jesus Cristo é o que deve ser comunicado. Porém, como comunicá-lo? Este é o entrave. Por isso, além da qualidade do conteúdo da mensagem, carece sempre aperfeiçoar o modo de expressá-lo; a comunicação se agrava quando há autoritarismo explícito, autoafirmação, defesa autoritária de ideias, demonstração de poder e posse da verdade. São poucos os que creem em verdades únicas, soluções prontas, como, às vezes, as autoridades eclesiais, ou mesmo os leigos, expressam.
Há pessoas, felizmente, convencidas da necessidade de ver as mudanças atuais de maneira positiva, aceitando-as e encarando-as com firmeza. Primeiro, porque as mudanças não são estáticas. Segundo, porque quem as rejeita se frustra, sofre, e os esforços podem ser em vão. Terceiro, porque temer a novidade é uma atitude inconveniente dentro de um novo tempo.
É preciso comunicar-se com o mundo assim como ele é! Evidentemente, é bastante difícil ter uma linguagem pertinente para todos; ninguém pode dizer que encontrou, até aqui, a linguagem mais adequada. A linguagem na pastoral urbana é um compromisso árduo, realmente desafiante. O primeiro desafio é escutar o mundo urbano; aprende-se a “falar” quando se escuta! Um segundo desafio é saber administrar o princípio da universalidade da Igreja. Geralmente o discurso é interpretado a partir dos padrões socioculturais do local. Um terceiro desafio é assumir que a estrutura paroquial desconsidera a diversidade das comunidades, e a linguagem está, ainda, distante de cada particularidade.
A linguagem nasce e/ou nascerá, por outro lado, quando realmente existe o desejo de se comunicar com a pluralidade do mundo. A partir do momento em que a Igreja se abrir a esta realidade, manterá vivo o sonho do Reino, pois a linguagem na pastoral urbana é um instrumento essencial para promover o que a Igreja pretende difundir, comunicando Jesus Cristo com eficiência à sociedade urbanizada. Isso é possível!  

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Apetite da vantagem

Desde o século XIV, em meio aos pequenos artesões da idade média, as atividades econômicas da sociedade indicaram o caminho do individualismo, da independência econômica de cada proprietário. Até então, os artesões, pequenos e simples, sobreviviam organizados em associações de estilo mútuo, denominadas de “guildas”, com um ou dois aprendizes. Cada “guilda” impedia qualquer tipo de competição. Tinha como base o princípio da economia solidária. Neste sistema os pequenos comerciantes mantinham uma segurança considerável em comparação ao início da era moderna, época onde o sistema capitalista começou a se sobrepor.
Quando o espírito capitalista se infiltrou dentro do sistema de “guildas”, alguns proprietários passaram a ter mais dinheiro que outros, agindo de maneira competitiva. Fascinados por dinheiro perderam a modéstia, e, para aumentar os lucros empobreceram a outros. Além disto, iniciaram a exploração do freguês – cliente – consumidor.
Dentro desta lógica, há o que pode ser chamado “apetite da vantagem”, isto é, a prática onde um “come o outro” com a intenção de se sobressair nos negócios, e obter lucro sem medida.
Observa-se até agora, no tempo nomeado de pós-moderno, que a fome por dinheiro divide a sociedade, quebra as relações de fraternidade e fortalece um sistema econômico que controla a vida das pessoas, deixando-as insatisfeitas. Os segundos tornam-se valiosos; os feriados, principalmente os impróprios para o consumo, insignificantes; o desejo de fama e status, prioridade.
Por um lado, a atual economia de mercado incentiva a competitividade, o domínio das multinacionais e transnacionais que não estão em maus lençóis, assim como, segundo Max Weber, estava a classe média no período medieval. Por outro, atinge o agricultor familiar, o pequeno comerciante, os trabalhadores... Cada vez mais exclui o pobre de participar da fatia do bolo do crescente econômico: 1 bilhão no mundo, 46 milhões no Brasil.
Este sistema de mercado que eleva o “apetite da vantagem”, é visto pelos críticos como injusto, desumano, opressor e tecnicista. Responsável pela falência de trabalhadores que tentam competir, mas se sentem fracos diante da avalanche do grande capital, atua de maneira gulosa e “bebe” o sangue do povo.
Bem, disse Lutero quando criticou o sistema de especulação comercial, referindo-se sobre o comércio e a usura. “Eles tem, sob seu controle todas as mercadorias e praticam, sem disfarce, todas as atividades... aumentam e baixam os preços a seu talante e oprimem e arruínam todos os pequenos...”.      
É urgente propor e construir uma nova economia e uma produção de riquezas numa perspectiva voltada ao humano, para o desenvolvimento da sociedade, naturalmente não nos moldes do sistema de “guildas”, contudo que preza pela vida.